sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

20 de Fevereiro.


Hoje é um dia especial, por 2 motivos.

Primeiro, é aniversário de um grande amigo.

O Pinho, aquele que me ensinou a tocar baixo (o instrumento), e que fundou a estado inevitável comigo.

Segundo, é aniversário de Kurt Cobain, que se estivesse vivo completaria 42 anos.

Kurt foi o cara que me levou a montar uma banda.

Graças a ele, junto com outro amigo, o Fabrício, montamos umas 5 bandas, todas sem futuro, e que nunca tiveram um nome definido.

E foi o Fabrício que me apresentou o Pinho...

Mas não foi num 20 de Fevereiro.......

Lugares que não conheço, pessoas que nunca ví.

Parte 5: Imoral

Jarbas era um garorto comum.
E por ser um garoto comum, aos 13 anos de idade estava em busca de sua autofirmação como indivíduo.
A única diferença entre Jarbas e os demais garotos "comuns" (ao menos os que ele conhecia) era que ele era viciado em masturbação.
Ele passava horas trancado em seu quarto vendo e revendo Emanuelles e Justines, sempre em busca do prazer solitário.
Mesmo tendo penas 13 anos,ele sabia que seu vício ia muito além da necessidade orgânica e da necessidade de extravasar a tensão sexual, ele precisava daquilo, precisava sentir prazer precisava ejacular pelo menos 3 vezes por dia.
E de uns anos pra cá, ele havia adotado uma prática nova.
Seu hobby era "batizar" todos os banheiros das casas que visitasse.
Talvez as mães de seus amigos até suspeitassem de seu comportamento, mas como ninguém jamais chamou sua atenção, ele seguia com sua tara desenfreadamente.
E era na casa do Jonas, seu melhor amigo, que ele sentia mais prazer.
Primeiro porque o banheiro era grande limpo e cheiroso.
Segundo porque a mãe do Jonas era sua musa inspiradora.
Ele lembra de ter passado mal quando a mãe do Jonas o encontrou na rua, passeando com sua mãe e disse:
-Nossa Mariana, teu filho cresceu..é um homem feito....
A frase foi o suficiente para ele passar a noite em claro, "homenageando" a mãe do Jonas....
Só o que Jarbas não imaginava, é que na maioria das vezes, a irmã do Jonas ficava o observando pelo buraco da fechadura, enquanto ele se acabava na pia.....

Lugares que não conheço, pessoas que nunca ví.

Parte 4: O andarilho.

Ele não era andarilho por não saber dirigir.
Ele não sabia nem andar de bicicleta.
Portanto, em meio a tantos ciclistas urbanos, ele acabou sendo considerado um andarilho.
Tinha vinte e poucos anos, costumava roer as unhas, e trabalhava como caixa de um mercadinho na Cidade Baixa (ou numa venda, como preferir).
Ele até gostava de trabalhar no mercadinho.
O problema era trabalhar a alguns metros da Redenção e não poder ir o parque encher a cara com os amigos. (Se bem que ele preferia mesmo era encher a cara durante a noite, em longas caminhadas desde a Barros até a José do Patrocínio, passando pelo Beco, pela Redenção escura, repleta de tarados e garotos de programa).
Mas naquele domingo, ele estava disposto sair mais cedo e ir ao encontro do pessoal, beber vinho até perder os sentidos e tentar dar uns beijos em alguma punk de boutique que estivesse de bobeira.
Mas naquele domingo as horas custavam a passar.
E ele estava de saco cheio de dar troco e pesar frutas.
Há tempos ele não se sentia de saco cheio, pois estava tão conformado com sua rotina, que suas atitudes eram todas automáticas.
Desde o ato de acordar e escovar os dentes, até dormir no ônibus e acordar um ponto antes do seu.
Mas naquele domingo, ele sentiu que precisava fazer algo novo, algo que nunca tivesse feito, só não sabia o que.

Lugares que não conheço, pessoas que nunca ví.

Parte 3 :Vago

Para ele, porto alegre sempre foi o melhor lugar do mundo. Talvez por isso gostasse de se deslocar desde a Vila Elza até o gasômetro sempre que tinha uma folga.
Gostava de ir lá em cima, ficar observando o Guaíba, imaginando as maravilhas que deveriam existir naquela ilha logo adiante.
Não que a vida de operador de caixa em uma loja de conveniências na Avenida Assis Brasil lhe ocasionasse muitas folgas, mas ocasionavam motivos de sobra para se isolar de tudo sempre que tivesse oportunidades.
E era o que ele fazia, para acabar com a raiva de lidar com burgueses mal educados, com aqueles olhares cínicos, e ares de satisfação que emitiam sempre que lhe davam notas altas e acabavam com seu troco.

Ao mesmo tempo se sentia um inútil por trabalhar a alguns metros da maior casa de Swing do Brasil, e não ter grana nem para entrar e tomar uma cerveja..
Mesmo conhecendo todas as garotas que trabalhavam na casa, suas companheiras de espera pelo ônibus matinal que o levaria de volta para casa, após madrugas intermináveis de trabalho, nunca tinha posto seus pés lá dentro.

Só o que lhe restava era o Guaíba, seus enigmas e o cheiro de baseado que sentia durante à tardinha, lá na Prainha.

E a certeza de que a troca de horário no serviço faria muito bem a ele.

Lugares que não conheço, pessoas que nunca ví.

Parte 2: Incógnita

-“Um passinho a frente, por favor!”
Ônibus lotado é sempre a mesma coisa....


Ela estava cansada da rotina. Acordar cedo, trabalhar, chegar em casa e dormir.
Para piorar, até o Bambus tinha perdido a graça para ela.
Estava sem vontade de encher a cara, cheirar cola e acordar na cama de estranhos.
Decidiu mudar de vida.
Mas por onde começar?
Talvez aquele rapaz, sentado a alguns metros a sua esquerda no ônibus, a observá-la descaradamente pudesse lhe ajudar. Afinal ele não conhecia sua fama de promíscua, nem sua trajetória Junkie.
Pensou em se insinuar para ele, tomar alguma iniciativa...
Mas agindo assim estaria sendo a mesma garota de sempre.
E se fosse apenas impressão sua, e o tal rapaz não quisesse nada com ela?
Talvez ele já fosse comprometido. Talvez ele fosse mais um gay a observar sua maquiagem ou seu cabelo.


Sente seu telefone tocar. Hesita em atender por instante. Primeiro por saber que era sua chefe perguntando se ela iria novamente se atrasar, segundo para ouvir um pouco mais Helter Skelter, seu ringtone novo.
Troca algumas palavras com a chefe, guarda o aparelho, e percebe o rapaz vindo em sua direção.
Mas ele puxa a campainha e desce na parada do Bourbon. Levando com ele o olhar vago e curioso da garota que o admirava em silêncio.
Com ela restou o vazio no peito, e a certeza de que estava sim conseguindo mudar seu modo de agir.

E amanhã seria outro dia. Quem sabe o rapaz estivesse novamente no ônibus? Quem sabe ela deixasse escapar um sorriso insinuante da próxima vez.