sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lugares que não conheço, pessoas que nunca ví.

Parte 4: O andarilho.

Ele não era andarilho por não saber dirigir.
Ele não sabia nem andar de bicicleta.
Portanto, em meio a tantos ciclistas urbanos, ele acabou sendo considerado um andarilho.
Tinha vinte e poucos anos, costumava roer as unhas, e trabalhava como caixa de um mercadinho na Cidade Baixa (ou numa venda, como preferir).
Ele até gostava de trabalhar no mercadinho.
O problema era trabalhar a alguns metros da Redenção e não poder ir o parque encher a cara com os amigos. (Se bem que ele preferia mesmo era encher a cara durante a noite, em longas caminhadas desde a Barros até a José do Patrocínio, passando pelo Beco, pela Redenção escura, repleta de tarados e garotos de programa).
Mas naquele domingo, ele estava disposto sair mais cedo e ir ao encontro do pessoal, beber vinho até perder os sentidos e tentar dar uns beijos em alguma punk de boutique que estivesse de bobeira.
Mas naquele domingo as horas custavam a passar.
E ele estava de saco cheio de dar troco e pesar frutas.
Há tempos ele não se sentia de saco cheio, pois estava tão conformado com sua rotina, que suas atitudes eram todas automáticas.
Desde o ato de acordar e escovar os dentes, até dormir no ônibus e acordar um ponto antes do seu.
Mas naquele domingo, ele sentiu que precisava fazer algo novo, algo que nunca tivesse feito, só não sabia o que.

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